Imagens da homenagem à Dona Rosa Mariani Cavalheiros Poty Djá no MArque na UFSC. Por Elis Nascimento

Tela "Poty Djá" (tinta de estampa e moldura de bambu) Gennis Ara'í

18/01/2020
N.1, V.1, abril 2020

A pintura faz referência a Poty Djá, a dona das flores. Suas asas representam o vôo de liberdade para o céu das divindades Guarani. Também a transformação de seu corpo físico para o espiritual. Tem em suas asas a marca da vida e o Nhamandú (sol sagrado). A sua frente está um vaso de argila que guarda todo o seu conhecimento. As flores simbolizam o conhecimento que colheu durante sua jornada em vida. O barquinho no qual está sentada faz referência ao veículo de transporte que faz a passagem de todo o ser Guarani para o outro mundo além da vida.

Dona Rosa, conhecida como Poty Djá (dona das flores), foi uma grande kunha karai da aldeia de M’Biguaçu. Uma anciã muito respeitada, considerada vó de todos na aldeia. Tinha um sábio conhecimento sobre a vida guarani e seus costumes. Era grande conhecedora da cosmologia feminina guarani.

Foi essencial para a organização social da aldeia, pela qual tinha grande zelo. Conhecia a aldeia com a palma de sua mão, pois foi uma das fundadoras. E conhecia exatamente o solo onde estava a melhor argila que precisava para confeccionar seu Petynguá e para plantar suas medicinas. Foi com ela que tive o grande prazer de aprender a fazer cerâmica com desenhos ungulados.

Conhecia cada pé das plantas que tinha na aldeia, fazia seus chás em função da cura do próximo. Mulher de força e rigor mesmo com tantos anos de idade ainda tinha força para trabalhar na roça, capinando e cultivando suas plantações com grande energia e motivação. Era um exemplo para todas as mulheres, mesmo com tantas lutas e obstáculos em sua vida conseguiu viver por muito tempo ainda. Mostrou que na vida tudo é possível.

Repassava todos os seus conhecimentos para seus filhos e netos através da oralidade. Toda a sabedoria que tinha transmitia para as crianças da aldeia com carinho através da música, da dança dos conselhos e das rezas dentro da opy ou na sua própria casa. Era sábia, guardiã de muitos conhecimentos sagrados. Mesmo passando de seus cem anos era guerreira e mulher de fibra. Assim como quase todas as anciãs guarani, tinha a preocupação de cuidar da família e zelar pelo seu bem. Cultivava a tradição guarani com grande orgulho.

Era muito religiosa e suas crenças eram também repassadas para os mais novos. Como uma verdadeira kunha karai. Tinha o dever de ensinar e guiar as meninas mais novas a seguir a verdadeira tradição guarani, o verdadeiro Nhanderekó. Tive orgulho de conhecer e conviver com Poty Djá na aldeia. Fez a passagem desse mundo para a terra sem males, mas deixou muitas sementes cultivando aqui nessa terra. E agora está lá em cima cuidando de nós ao lado de Nhanderu e Nhandetchy.

Homenagem à:

Dona Rosa Mariani Cavalheiros Poty Djá

por Evelyn Schuler Zea
Aqui, ao lembrar de Dona Rosa Poty Djá, eu gostaria de falar sobre a terra Mãe, gostaria de propor que falemos juntos o que tinha em Dona Rosa de terra, de espaço e tempo, dos atributos de mundo que ela transportava em sua vida. Essas potências da terra reunidos na figura de Dona Rosa Poty Djá formam uma lista aberta, que pode ser ampliada por todos aqueles que compartilharam momentos com ela ou, como no meu caso, aqueles que a conheceram através do respeito dos outros. De minha parte, então, eu só queria dizer que entre as forças da terra que sua figura evoca, fiquei impressionada com seu enraizamento, sua profundidade no tempo e no espaço. Sua imagem perpassa tempos e espaços, também se faz presente na universidade, fazendo sentir, sob a irradiação de sua figura, que estes prédios parecem não ser mais a universidade que conhecemos, mas sim outra universidade eventual, afundada na terra, em trânsito no tempo, radical em seu enraizamento.
por Ítalo Mongconãnn

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